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Antes de ser privatizado, Porto de Santos quer ser ‘verde’ para atender ESG

Publicado pela ABTLP

Com previsão de ser privatizado em 2022, o Porto de Santos traçou planos para reforçar a agenda de sustentabilidade no complexo portuário, o maior da América Latina. Os projetos vêm no embalo da inclusão da Santos PortAuthority (SPA), estatal que administra o porto, na Rede Brasil do Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada a compromissos ESG (sigla em inglês para os aspectos ambiental, social e governança).

Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, em que revela a recente aprovação para integrar a lista da ONU, o presidente da SPA, Fernando Biral, antecipou medidas que a empresa colocará em prática, seja nos próximos meses ou durante a concessão das atividades do porto. “Nós fizemos a lição de casa, então agora precisamos ter uma agenda mais ambiciosa”, disse Biral, que citou ações pela água, clima, contra a corrupção e de comunicação e engajamento.

As iniciativas estarão previstas na revisão do planejamento estratégico 2021-2025 da companhia, que deve ser aprovado até o fim de agosto pelo Conselho de Administração. Uma delas tem como objetivo incentivar a descarbonização das embarcações. Isso será feito por meio de uma redução da tarifa de utilização da infraestrutura portuária para navios “verdes”, que emitem menos poluentes.

Porto de Santos
A proposta já foi encaminhada para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Todo navio que tiver um combustível mais limpo, ele vai ter um desconto na tarifa”, disse Biral, no comando da SPA desde o ano passado.

Outra medida avaliada pela companhia é a eletrificação do cais do porto. Diferente do benefício tarifário, a ação será implantada mais a longo prazo e, por isso, deverá ser conduzida pela empresa que arrematar a concessão dos serviços de administração do porto na privatização. A iniciativa possibilita que os navios desliguem os motores movidos a óleo enquanto estiverem atracados, para usufruir da eletricidade que será oferecida pelo porto. Como consequência, menos combustível é queimado, com redução na emissão dos poluentes.

“No porto, o navio fica parado, mas também fica queimando óleo, e o que queremos fazer é disponibilizar infraestrutura elétrica para que, em vez de queimar esse óleo, ele possa se plugar na rede elétrica”, afirmou Biral. Segundo ele, os portos da Califórnia já usam dessa prática. A ideia inicial é de que a obrigação de eletrificação esteja prevista no contrato da concessionária que operar o porto.

O presidente da SPA reconhece que, para a mudança ser usufruída pelas embarcações, há um custo, já que o uso do cais eletrificado demanda uma reforma nos navios. Mas essas inovações fazem parte de um movimento em curso no mundo todo, que exige a redução da intensidade de carbono no transporte marítimo. Recentemente, a Organização Marítima Internacional (IMO) estabeleceu novas medidas obrigatórias para que os navios diminuam a emissão de gases poluentes.

“A IMO aprovou uma melhoria no combustível, que tende a emitir menos gases de efeito estufa, e essa ação de eletrificação do cais é outra iniciativa para reduzir ainda mais esse tipo de emissão”, disse o gerente de Sustentabilidade da SPA, Bruno Takano.

Nesse sentido, a estatal também planeja fazer um inventário de gases de efeito estufa, que servirá para medir com precisão em quanto está a emissão desses poluentes no local do porto. Segundo Takano, para a realização do inventário, a companhia está em estágio final de contratação e a previsão é de que, a partir do próximo ano, os estudos sejam iniciados. Além dessa iniciativa, o porto fará uma avaliação dos riscos das mudanças climáticas nas operações portuárias.

Biral afirmou que a privatização não vai alterar os planos da empresa de reforçar a agenda ESG. “Tudo que estamos planejando, permanece”, disse ele, para quem essas ações aumentam o valor da companhia na desestatização. “Ações ESG sempre agregam valor para empresa. Então a adesão ao pacto traz reconhecimento para nós. Teremos grandes contatos com outras empresas, poderemos trazer boas medidas adotadas por elas e aplicar nos nossos negócios”, reforçou o gerente de Sustentabilidade da companhia.

Agendas em andamento
O presidente da SPA ressaltou que a estatal já vinha investindo nessa agenda de sustentabilidade, postura que possibilitou a entrada no Pacto Global. A adesão, segundo a companhia, atesta que a SPA está alinhada aos princípios da iniciativa, que envolvem ações nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. “É hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 16 mil membros, entre empresas e organizações, distribuídos em 69 redes locais, que abrangem 160 países”, segundo a ONU.

Entre as medidas ESG já encaminhadas pela companhia está um programa de monitoramento da água. Agora, a SPA também prevê para o Plano Estratégico a inserção de campanhas de fomento e a busca por soluções tecnológicas que contribuam para a limpeza dos mares.

Biral também afirma que houve um avanço significativo na governança da administração do porto, que no passado foi palco de escândalos de corrupção. Em 2018, a Polícia Federal chegou a prender o então presidente da companhia durante a Operação Tritão, que apurou suspeitas de fraude em licitação e corrupção em contratos da estatal de R$ 37 milhões.

No primeiro trimestre de 2021, o Porto de Santos praticamente dobrou o lucro líquido diante do aumento da receita e da redução de custos no período. De janeiro a março, a autoridade portuária reportou um resultado líquido de R$ 70,7 milhões, aumento de 93,1% sobre igual período de 2020.

Fonte: Portos e Navios

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