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Sou empresário. Devo ou não tomar empréstimo? Quando optar pelo crédito?

Publicado pela ABTLP

Especialistas dão dicas do quê fazer antes de optar pelo crédito e em quais situações é mais aconselhável contratar novas dívidas em meio à pandemia.

O governo federal e bancos públicos e privados anunciaram nas últimas semanas diversas medidas para ampliar e facilitar a oferta de crédito para empresas, com o intuito de minimizar os impactos da pandemia sobre a saúde financeira dos negócios.

Esses anúncios já contemplaram desde uma nova linha – como o crédito emergencial para financiar somente folha de pagamento de pequenas e médias empresas – até à ampliação de modalidades já existentes – como é o caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que destinou R$ 5 bilhões para uma linha voltada para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs).

Mas em meio a um momento de grande incerteza no país e no mundo, é aconselhável pegar empréstimo? Em que situações optar pelo crédito pode ser mais ou menos nocivo?

Segundo especialistas ouvidos pelo G1, a atitude mais coerente neste momento é fazer o que for possível para evitar o endividamento. “Contrair dívidas deve ser uma das últimas alternativas”, diz o planejador financeiro da Planejar, Flávio Pretti.

Para ele, antes de pedir empréstimo, é preciso recorrer a alternativas mais tradicionais, como corte e reavaliação de despesas e renegociação e revisão de contratos com fornecedores e trabalhadores.

“Neste momento, fornecedores sabem que precisam ser mais flexíveis, pois quando tudo voltar ao normal, eles vão precisar das empresas para retomarem as suas vendas”, diz Pretti.

Diversas medidas anunciadas pelo governo já permitem a redução de gastos com pessoal, como redução proporcional de jornada e de salário e suspensão temporária dos contratos.

Além disso, o governo também já autorizou o adiamento do pagamento de tributos do Simples Nacional e recolhimento do FGTS, enquanto os bancos estão prorrogando pagamento de dívidas por até 60 dias para micro e pequenas empresas.

Para Pretti, vale a pena lançar mão dessas alternativas antes de cair no empréstimo. Ao fazer isso, a empresa pode ter mais clareza da sua real situação financeira e ter mais discernimento nas suas decisões.

“No desespero, as pessoas tendem a achar que não vai entrar nada no caixa. Por isso que é importante calcular o faturamento. Meu faturamento vai cair 60%, 40%? Como eu posso me organizar diante disso com as ferramentas já disponíveis, sem contrair mais dívidas?, acrescenta Pretti.

Para o planejador, esse exercício é importante até para evitar que o dono do negócio saia na pressa atrás do empréstimo, sem estruturar garantias e sem comparar taxas e condições mais vantajosas entre os bancos, levando empresários à enveredar por más escolhas que só vão aumentar o seu endividamento.

Mas se eu decidir tomar empréstimo, o que levar em conta?
A consultora do Sebrae-SP, Cibele Pestillo, diz que se a empresa decidiu optar pelo financiamento ela deve fazer primeiro um balanço da situação financeira levando em conta o quanto ela tem para receber; as contas a pagar; o saldo em caixa e a projeção de vendas de acordo com o ramo.

Essa projeção deve ser feita tanto com relação à possibilidade de vendas durante o período de isolamento – alguns setores, por exemplo, estão conseguindo faturar por meios de canais online e delivery, ainda que em um valor menor – como com relação à expectativa de vendas após à pandemia e retomada normal das atividades.

Para Cibele, a projeção de retomada das vendas é muito importante para a empresa avaliar de que forma ela vai conseguir se organizar para pagar os empréstimos. Claro que essa é uma análise que vai variar muito entre cada empresa.

Mas uma dica geral é que o empresário estude as perspectivas de retomada do seu ramo de atuação e estratégias que ajudem na recuperação de receita.

Do contrário, sem a expectativa de uma entrada de receita igual ou maior do que as despesas, fica difícil aconselhar empréstimo. “Nesse caso, ao tomar crédito, a empresa só vai aumentar o seu endividamento”, diz a consultora.

“Se as vendas que ela têm hoje são insuficientes para pagar as contas que já existem, o crédito pode ser muito maléfico”, diz Cibele.

Quando é aconselhável tomar crédito para pagar salários?
O financiamento voltado exclusivamente para a folha de pagamentos pode ajudar os pequenos e médios negócios a ganharem tempo para reestruturarem a sua operação e as suas finanças.

Isso porque a linha oferece um período de carência de 6 meses para começar o pagamento e mais 36 meses para pagar com um juros de 3,75% ao ano. Para Cibele, essa taxa de juros é “bastante convidativa”, já que é baixa em relação às que vêm sendo praticadas no mercado.

Segundo ela, essa linha é interessante para evitar com que o capital de giro da empresa fique todo empoçado na folha de pagamentos em um momento que as empresas correm para fazer ajustes.

Ao tomar esse crédito, a empresa libera parte do seu orçamento para arcar com outros gastos de manutenção; para investir em novas estratégias de venda e de divulgação da marca ou para se organizar financeiramente para pagar o empréstimo.

Uma das vantagens dessa linha é o prazo de pagamento em 36 meses. Essa condição reduz as parcelas mensais a serem pagas, onerando menos o caixa futuro da empresa.

“Porém, é importante alertar que essa linha pode ser boa desde que a perspectiva de venda e de recebimento da empresa seja igual ou maior do que os gastos. E quando falo em gasto, incluo aqui também as despesas com o novo empréstimo”, diz Cibele.

E em quais situações é aconselhável tomar crédito para capital de giro?
O crédito para capital de giro é geralmente recomendado para pagar as contas que ainda não venceram, mas que a empresa já calculou que não vai conseguir honrar.

A consultora do Sebrae não recomenda a contratação de capital de giro para pagar contas ou dívidas antigas.

“Muitos empreendedores contratam capital de giro para pagar contas em atraso, sem montar uma estratégia para expandir as vendas. Isso acaba se tornando maléfico para a saúde da micro e pequena empresa”, diz Cibele.

Como o país vive um momento de incerteza em sua economia, Cibele só aconselha contratar empréstimo de capital de giro se a empresa tem uma expectativa de retomar o seu faturamento após à normalização das atividades. Pois, dessa forma, a empresa terá condições de se organizar financeiramente para pagar o empréstimo.

Ela conta que um dos clientes que têm atendido, uma empresa do ramo de materiais hospitalares, tomou crédito para capital de giro para comprar mais insumos e recompor o seu estoque, já que as suas vendas estão em expansão.

Como essa empresa já tem uma carteira fixa de clientes, ela já sabe que, quando a pandemia acabar, ainda terá para quem vender e, portanto, terá condições de ir arcando com esses empréstimos.

Uma outra empresa cliente do Sebrae, uma bicicletaria no interior de São Paulo, em Birigui, também está contratando empréstimo. Com atuação nas áreas de varejo e consertos, após à chegada da pandemia, a empresa chegou a perder as suas vendas para o consumidor final, mas seguiu operando na manutenção de bicicletas e motocicletas e encontrou um novo ramo: o da distribuição.

A empresa percebeu que os outros negócios do mesmo ramo não tinham caixa para comprar novas peças. Como a bicicletaria estava com as contas em dia, sem dívidas e com recurso em caixa, ela passou a revender as suas peças e agora está tomando empréstimo para expandir seu negócio para a distribuição, onde foi identificada uma oportunidade de expansão.

Cibele diz que esses são alguns casos em que é aconselhável tomar crédito para capital de giro: quando há expectativa de retomada e de expansão das vendas.

Ela reforça que empresas que já vinham muito endividadas antes da pandemia, devem evitar ao máximo contratar novas dívidas, a menos que tenham uma estratégia muito bem definida de como irão correr atrás do prejuízo. Do contrário, a recuperação se tornará bem mais difícil.

Fonte: G1

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