Informativos ABTLP

O silêncio das fábricas simbolizam o momento do setor automobilístico

Publicado pela ABTLP

No fim de março, as fábricas de veículos do Brasil voltaram a silenciar. Não ficou claro o quanto da necessidade de paralisar a produção foi consequência do agravamento da pandemia e o quanto se deu em decorrência da escassez de componentes. Os dois motivos estavam evidentes e ambos foram fortes o bastante para a dispensa de trabalhadores por períodos que variaram de duas semanas a mais de dois meses.

Ao fim de março, 30 fábricas, de 14 montadoras, estavam paradas e 65 mil operários em casa. Aos poucos, voltaram produção, vendas, exportação e o ruído em quase todas as fábricas. Mas, de forma geral, um setor historicamente barulhento anda muito quieto. A começar pelos seus executivos, que passaram o primeiro trimestre mais absortos que o habitual.

O ritmo de lançamentos também está mais lento, o que é compreensível. Como outros setores, essa indústria preparou-se para concentrar energias no segundo semestre na expectativa de que até lá o país tenha controlado a pandemia e avançado na vacinação contra a covid-19.

Mas o tempo está passando. A crise sanitária atingiu proporções acima do que se imaginava. Decisões urgentes estão pendentes — a agenda dos investimentos para a renovação de veículos no Brasil é só uma delas. Falta, também, discutir qual matriz energética prevalecerá no país.

O silêncio dessa indústria não pode ser atribuído só à pandemia. Tampouco diz respeito só ao Brasil. As transformações nos hábitos de transporte e na relação do consumidor com o automóvel e a necessidade de buscar alternativas energéticas mais limpas mexeram com paradigmas muito antes de o novo coronavírus deixar o mundo perplexo.

Salões de automóveis internacionais, como o de Frankfurt, ficaram esvaziados já em 2019. No mesmo ano, os organizadores do salão de Detroit (EUA), maior evento na cidade no mês de janeiro, decidiram transferir a mostra para o verão, esperando assim encantar o público com testes de carros ao ar livre. Mas aí veio a covid-19, e o pavilhão de exposições abrigou um hospital de campanha.

A transformação dessa indústria é global e a pandemia tornou seu futuro sombrio. E no Brasil continuam a ser motivo de preocupação evidências de que o país perdeu peso no mapa mundial de investimentos para desenvolver as próximas gerações de veículos. O caso da Ford, que anunciou em janeiro o fim das atividades industriais no país, pode ser a ponta de um grande iceberg.

A Anfavea, associação que representa as montadoras, tem exposto um pouco do que o setor pensa. No início de abril, o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, disse à imprensa que “o ambiente político do país assusta as matrizes” e que, em vez de “pensar mais no Brasil”, Brasília “pensa nas eleições de 2022”.

Fora isso, os debates de ideias, corriqueiramente levantados pelos dirigentes do setor, perdeu um pouco o sentido à medida que há problemas por todos os lados. A pandemia afeta revendas e abastecimento de peças, a desvalorização do real pressiona custos e o governo está longe de resolver questões importantes, como o déficit fiscal e a agenda de reformas. O silêncio no setor hoje mostra simplesmente que não há muito o que dizer.

Fonte: AUTO ESPORTE

Deixe um comentário