Nas federais, gasto nem sequer foi orçado e ainda não há prazo para reparações
As chuvas reduziram nos últimos dias, mas a destruição provocada nas estradas mineiras gera caos e ainda está longe de ser resolvida. Com a maior malha viária do país, o Estado tem atualmente 37 rodovias totalmente interditadas e 83 parcialmente fechadas, entre federais e estaduais. O Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) estima que terá que desembolsar pelo menos R$ 100 milhões ao longo do ano em obras e intervenções emergenciais para recuperação das vias – já o governo federal nem sequer tem estimativa do prejuízo.
Nessa sexta-feira (14), o governador Romeu Zema (Novo) anunciou a liberação de R$ 560 milhões para a obras e ajudas humanitárias nas cidades afetadas pelas chuvas, incluindo a recuperação de pontes e vias destruídas. Mas ainda não existe previsão de execução dessas reformas e de normalidade nas estradas mineiras. Só em infraestrutura, o que inclui a reconstrução de pontes e rodovias, o governador fala de um prejuízo estimado de R$ 400 milhões.
Enquanto isso, as interdições já estão afetando a economia de municípios e distritos, além de impactar a venda de comerciantes. A Federação das Indústrias do Estado (Fiemg) calcula um prejuízo diário de mais R$ 90 milhões para a economia com a paralisação das atividades e a interdição de estradas em todo o território mineiro, sendo um impacto de R$ 41 milhões para o setor industrial.
Somente nos dez primeiros dias de 2022, a estimativa é a de que as perdas possam ultrapassar R$ 1,1 bilhão. O empresário Eleomar Ricardo Vilaça, 44, tem uma fábrica de panelas de pedra-sabão no distrito de Santa Rita de Ouro Preto, que fica a cerca de 30 km de Ouro Preto, na região Central. Como o único acesso pela MG–129 está em condições ruins em decorrência da chuva, a fábrica parou de receber matéria-prima para a produção há uma semana, e todo o estoque de pedra-sabão acabou anteontem.
“A gente foi usando a matéria-prima que a gente tinha. Com essa deficiência nas estradas, acabou de zerar tudo, não estamos recebendo nada.
Os clientes não conseguem vir nem as transportadoras. Hoje a gente tem uma média de 60 funcionários, se continuar assim nós vamos ter que demitir mais da metade, ou até mesmo parar todo mundo”, afirmou Vilaça.
Pelos cálculos de Eleomar, que costumava produzir cerca de mil panelas diariamente, o prejuízo chega a R$ 40 mil por dia. Nem mesmo as vendas pela internet estão sendo concluídas, porque os produtos não são recolhidos pelas transportadoras, devido às condições precárias das estradas.
O presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas e Bens do Estado de Minas Gerais (Fetac-MG), Antônio Vander Silva, afirma que, nesta semana, muitos caminhoneiros relataram problemas nos acessos a Ouro Preto e em municípios de outras regiões. “A região da Zona da Mata está bem precária. Tem chegado para gente problemas na região de Ponte Nova, Timóteo. É uma situação complicada, porque, quando é um caminhoneiro autônomo, ele não faz a entrega, mas tem gastos. Às vezes ele fica sem comer, porque não tem dinheiro no bolso. É uma luta pela sobrevivência”, explica.
‘Falta manutenção durante seca’
Especialistas concordam que o volume de chuvas foi excessivo em um curto período e, por isso, causou tantos estragos nas rodovias. Mas a falta de manutenção nas estradas, mesmo em períodos de seca, contribui para que os problemas venham à tona no período chuvoso. “Em estado normal (fora do período chuvoso), não tinha manutenção e, agora, muito menos. A drenagem das rodovias está sendo agravada pelo volume de chuva. Neste momento, não tem como ter regularidade na manutenção. O jeito é ter que impedir o trânsito nos locais afetados”, avalia o especialista em transporte e trânsito e professor da faculdade Fumec Márcio José Aguiar.
Para ele, realizar a manutenção dos dispositivos de drenagem nas rodovias em tempos de estiagem é um passo importante. Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) e o DER-MG afirmaram que têm trabalhado com atendimento emergencial aos municípios e às rodovias mais impactados pelas chuvas, seja por meio de doação de materiais ou com o atendimento às ocorrências nas estradas mineiras.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que já está fazendo os levantamentos necessários nas rodovias federais.
‘Só circule em caso de necessidade’
A orientação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) é para que os motoristas só circulem pelas estradas mineiras em caso de muita necessidade. Outra dica é para que, em caso de interdição, procurem rotas alternativas por meio dos aplicativos de trânsito.
Quem precisa trafegar pela BR–381, por exemplo, entre as cidades de Nova Era e Antônio Dias, na região Central de Minas, tem que buscar desvios porque a via foi totalmente interditada anteontem após um estufamento da pista. Não há previsão para a liberação da via.
Fonte: Jornal O Tempo
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