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Balanço da ANTT sobre acidentes nas rodovias pedagiadas coloca em cheque dados da PRF

Publicado pela ABTLP
Divulgação de dados sem esclarecer a metodologia é uma estratégia de marketing que compromete credibilidade da PRF e da ANTT

Estradas.com.br tem alertado sobre os cuidados que as autoridades precisam ter na divulgação de estatísticas em balanços de feriado. O que antes era apenas uma informação, com o tempo, tornou-se uma estratégia de marketing.

Esta semana, a Agência Nacional de Transportes Terrestes (ANTT) informou o balanço dos sinistros (acidentes), mortos e atendimentos médicos registrados nas 26 concessionárias de rodovias.

Segundo a Agência, 29 pessoas morreram nos cinco dias de operação nas rodovias pedagiadas. Entretanto, a Polícia Rodoviária Federal informou que 82 pessoas morreram no feriado de Corpus Christi deste ano, no total de rodovias federais, que incluem as concedidas.

Portanto, admitindo como corretos os números da ANTT, foram 53 mortes nas rodovias não concedidas e 29 nas pedagiadas. A PRF é responsável por 74 mil quilômetros de rodovias; descontados os 14.100 km das concedidas, restam aproximadamente 60.000 km sem pedágio, onde teriam ocorrido as 53 mortes.

Considerando estes dados, tivemos 1 morto para cada 486 km de rodovias pedagiadas. Já os 60.000 km de não concedidas registraram 1 morto a cada 1.132 km. Uma interpretação apressada poderia indicar que as rodovias pedagiadas são mais perigosas, embora concentrem a maioria dos trechos duplicados.

É evidente que isso não procede, pois é necessário considerar quantos veículos trafegaram nos 14.100 km pedagiados em relação aos 60.000 km sem pedágio. Segundo as 26 concessionárias, o tráfego no período foi de 11.640.851 veículos. Não existe informação quanto ao tráfego nos restantes 60 mil quilômetros de rodovias federais.

Por isso, defendemos que os balanços de sinistros e vítimas sejam feitos em períodos mais longos e com esclarecimentos detalhados sobre a metodologia utilizada. Podem ser trimestrais e anuais. Da forma como anunciam, logo depois de feriados, parece mais uma estratégia equivocada de marketing do que um levantamento sério.

ANTT diz que sinistros aumentaram 6% e mortos diminuíram 37%

Vejamos a comparação divulgada pela ANTT entre o feriado de Corpus Christi deste ano em relação ao de 2023. Em 2023, segundo a ANTT, teriam morrido 46 pessoas contra 29 deste ano, no mesmo feriado.

Ao mesmo tempo, a Agência indica que os sinistros (acidentes) aumentaram em 6% em 2024, mas os mortos caíram 37% em relação a 2023. Pela lógica, aumento de sinistros deveria significar aumento de vítimas, e não uma redução de 37%. Veja o quadro abaixo:

Mas na hora de explicar os dados, informação da Agência deixa claro que o objetivo parece ser apenas marketing e não analisar com profundidade os números. Veja o que diz o comunicado da ANTT para a imprensa e que está disponível no seu site:

O balanço indica uma queda expressiva de 37% nos acidentes fatais, com 46 ocorrências em 2023 reduzindo para 29 em 2024, evidenciando a eficácia das medidas de segurança adotadas pelas concessionárias e fiscalizadas pela ANTT.”

Mais um indício de marketing verificamos quanto aos feridos. A ANTT informa que foram realizados 1.547 atendimentos médicos, mas não esclarece quantos foram os feridos, já que podem ser confundidos com um passageiro ou motorista atendido por uma crise de pressão, mal-estar ou qualquer outro motivo.

Já a PRF registrou 1.080 feridos em 74.000 km contra os 1.547 atendimentos médicos em 14.100 km de rodovias pedagiadas. O número de feridos é extremamente importante para este tipo de análise. Mais uma vez, a falta de explicações detalhadas sobre o que é considerado atendimento médico e quantos deles ocorreram em função de sinistros coloca os dados sob suspeita.

O balanço da ANTT omite os feridos e coloca em dúvida as estatísticas de feridos da PRF. Afinal, como pode a ANTT informar 1.547 atendimentos médicos em 14.100 km de rodovias concedidas, quando a PRF revela 1.080 feridos em 74 .000 km, incluindo os trechos pedagiados? Sem explicação da metodologia, tudo passa a ser questionável.

Por outro lado, a ANTT informa que foram registrados 1.023 sinistros nos 14.100 km de rodovias pedagiadas, no feriado de Corpus Christi. Já a PRF informou que foram 1.062 sinistros no mesmo período, em 74.000 km de rodovias federais. Considerando que a definição de sinistro utilizada pela ANTT e pelas concessionárias seja a mesma da PRF, seriam praticamente um sinistro (acidente) a cada 14 km de rodovias pedagiadas.

Ao mesmo tempo, considerando os 1.062 sinistros no total das rodovias federais, descontados os 1.023 divulgados pela ANTT nas rodovias pedagiadas, sobrariam 39 sinistros ocorridos em 60 mil km de rodovias federais não concedidas. Isto dá uma média de 1 sinistro a cada 1.538 km de rodovias não pedagiadas sob a responsabilidade da União.

Esses números são tão absurdos e confirmam que a ANTT precisa usar os dados com seriedade e com a mesma metodologia da PRF, ou vão desacreditar as informações e comprometer um trabalho importante de segurança viária.

Temos certeza de que conceder rodovias melhora as condições das estradas, a rapidez do atendimento às vítimas e, assim, reduz a gravidade dos índices de fatalidade. Mas, da forma como estão divulgando, desacreditam as boas notícias.

Fonte: Estradas | Imagem: PRF

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