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Multitarefa ao volante: o que o celular tira da sua atenção (e do seu tempo de reação)?

Publicado pela ABTLP
Uso do celular ao dirigir continua entre os principais fatores de risco no trânsito e expõe a falsa sensação de controle que muitos condutores têm ao tentar fazer duas coisas ao mesmo tempo.

Mesmo após campanhas educativas como o Maio Amarelo e o reforço na fiscalização, o uso do celular ao volante ainda é um dos maiores desafios à segurança viária no Brasil. A prática de enviar mensagens, fazer ligações, mexer em aplicativos de navegação ou redes sociais enquanto dirige está diretamente ligada a falta de atenção no trânsito e ao aumento no número de sinistros com vítimas.

O comportamento é tão perigoso que especialistas em trânsito classificam o celular como um dos “novos vilões invisíveis” das rodovias e ruas urbanas — e alertam para o mito da multitarefa.

“O cérebro humano não foi projetado para fazer duas tarefas complexas ao mesmo tempo com eficiência. O que acontece, na prática, é uma rápida alternância entre uma tarefa e outra, e isso compromete a atenção no trânsito”, explica Celso Mariano, especialista em educação para o trânsito e diretor do Portal do Trânsito.

O celular desvia atenção em três níveis

De acordo com estudos internacionais de segurança viária, o uso do celular ao dirigir compromete o comportamento do motorista em três níveis principais de atenção:

  1. Visual: o condutor desvia os olhos da via para olhar a tela.
  2. Manual: uma das mãos (ou ambas) deixa o volante para segurar o celular ou digitar.
  3. Cognitivo: a atenção mental se volta à conversa, mensagem ou conteúdo no dispositivo.

Essas distrações aumentam drasticamente o tempo de reação em caso de imprevistos. De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), usar o celular ao volante pode elevar em até 400% o risco de acidentes. “Mesmo uma interação rápida com o celular — como olhar uma notificação — representa um risco. A 60 km/h, tirar os olhos da via por 3 segundos significa percorrer cerca de 50 metros às cegas”, reforça Celso Mariano.

Tempo de reação comprometido

Pesquisas mostram que o tempo de resposta de um motorista focado gira em torno de 1 segundo. Quando há distrações cognitivas, esse tempo pode dobrar ou triplicar. Ou seja: o condutor demora mais para frear, desviar de obstáculos ou perceber mudanças no trânsito.

Além disso, os motoristas que usam celular:

  • Fazem freadas bruscas com mais frequência.
  • Têm maior dificuldade de manter a velocidade constante.
  • Tendem a desrespeitar a sinalização sem perceber.

Esses fatores aumentam o risco não apenas de colisões traseiras, mas também de atropelamentos e saídas de pista.

Penalidades previstas na legislação

No Brasil, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) considera gravíssima a infração por manusear o celular enquanto dirige. Desde 2016, com a Lei nº 13.281, o artigo 252, inciso VI, prevê:

  • Multa de R$ 293,47
  • Perda de 7 pontos na CNH

Além disso, o artigo 169 do CTB também enquadra como infração leve qualquer atitude que comprometa a atenção ao dirigir, o que pode incluir o uso do celular em viva-voz ou via fones.

“A legislação é clara, mas a mudança de comportamento ainda é lenta. Falta ao condutor a percepção real do risco envolvido. Muitos só se dão conta quando o sinistro já aconteceu”, lamenta Celso Mariano.

A falsa sensação de controle

Um dos principais motivos para a persistência desse comportamento é a ilusão de que conseguimos lidar com tudo ao mesmo tempo. No trânsito, essa crença pode ser fatal.

De acordo com o Observatório Nacional de Segurança Viária, mais de 90% dos acidentes têm origem em falha humana — e boa parte deles está relacionada a comportamentos distraídos. Somado a isso, a hiperconectividade cotidiana — impulsionada por mensagens instantâneas, redes sociais e notificações constantes — cria um ambiente em que se desligar do celular parece impossível, mesmo ao volante.

Educação e conscientização: o papel de todos

Campanhas educativas, fiscalização e tecnologia têm papel fundamental para combater o uso do celular ao volante. Porém, a mudança mais eficaz ainda vem da autopercepção do risco e da valorização da vida.

“O que está em jogo não é apenas a multa, mas vidas. Inclusive a sua. Desconectar-se por alguns minutos ao volante pode ser a atitude que vai manter você e outras pessoas seguras”, afirma Celso Mariano.

Além disso, o especialista lembra que pais e responsáveis têm papel essencial na formação de adultos conscientes: “O exemplo conta muito. Crianças e adolescentes que veem os adultos ao celular enquanto dirigem tendem a normalizar esse comportamento”, finaliza o especialista.

Fonte: Portal do Trânsito | Foto: terovesalainen para Depositphotos

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