Apps de navegação como Waze e Google Maps agilizam rotas, mas desviam tráfego para ruas residenciais, aumentando riscos para pedestres e ciclistas.
Aplicativos de navegação como Waze e Google Maps revolucionaram a forma como os motoristas se deslocam nas cidades. Com a promessa de rotas mais rápidas e informações em tempo real, eles se tornaram indispensáveis para milhões de usuários. No entanto, especialistas em trânsito e urbanismo têm levantado um alerta importante: a eficiência individual pode ter um preço coletivo.
Em busca de “atalhos”, os apps acabam desviando grande parte do tráfego para ruas residenciais, antes pouco movimentadas. Esse fenômeno, já observado em metrópoles como Los Angeles, Londres e Berlim, tem se repetido em cidades brasileiras, especialmente nas regiões metropolitanas.
O efeito colateral das rotas mais rápidas Quando um aplicativo identifica um congestionamento em uma avenida principal, ele sugere caminhos alternativos por vias secundárias. A consequência imediata é a sensação de ganho de tempo para o motorista. Mas, em escala coletiva, o resultado pode ser preocupante.
De acordo com urbanistas, o desvio constante de veículos para bairros residenciais gera aumento de velocidade em vias locais, ruídos, e eleva o risco de acidentes envolvendo pedestres e ciclistas. Além disso, compromete a qualidade de vida de moradores, que veem suas ruas se transformarem em verdadeiros corredores de passagem.
“O problema é que os aplicativos foram pensados para resolver o tempo de deslocamento de cada motorista, mas não para equilibrar o impacto urbano”, explica o especialista em mobilidade Celso Mariano.
“Isso significa que, enquanto um ganha minutos no trajeto, o bairro inteiro pode perder em segurança e qualidade de vida.”
Experiências internacionais e soluções possíveis
As dificuldades impostas pelo uso massivo de aplicativos de navegação já levaram diversas cidades ao redor do mundo a adotar medidas de contenção. Em Los Angeles, por exemplo, comunidades pressionaram o poder público para instalar barreiras modais — estruturas físicas que impedem a passagem de veículos em determinadas ruas, mantendo o tráfego apenas para moradores.
Na Alemanha, algumas cidades reconfiguraram sentidos de ruas para dificultar o uso de vias residenciais como atalhos. Já em Londres, projetos de “bairros de baixa emissão” associaram controle de tráfego com políticas ambientais, criando zonas em que a circulação é restrita ou desincentivada.
No Brasil, ainda não há políticas estruturadas específicas para enfrentar esse desafio, mas algumas capitais vêm estudando alternativas de urbanismo tático, como redutores de velocidade, ampliação de áreas exclusivas para pedestres e até a priorização do transporte público nos apps de navegação.
Tecnologia a favor da mobilidade segura
Embora os aplicativos tragam problemas, especialistas afirmam que a tecnologia também pode ser parte da solução. Alguns estudos apontam que, caso se ajustasse os sistemas de navegação para priorizar rotas mais seguras e sustentáveis, o impacto no trânsito poderia ser positivo.
Já há iniciativas em andamento. O próprio Google, dono do Waze, anunciou recentemente testes de algoritmos que consideram não apenas a rapidez da rota, mas também a eficiência energética e a segurança viária. Essa evolução poderia transformar os aplicativos de vilões em aliados da mobilidade urbana.
Debate necessário
O avanço dos apps de navegação coloca em pauta um dilema típico das grandes cidades: o que é melhor para o motorista individual pode não ser o melhor para a coletividade. Se, por um lado, eles facilitam a vida de quem está no trânsito, por outro, criam desafios que precisam ser enfrentados por meio de políticas públicas, planejamento urbano e, claro, pela responsabilidade compartilhada entre usuários e gestores. “Não se trata de demonizar a tecnologia”, reforça Celso Mariano.
“O ponto é reconhecer que cada decisão de rota tem consequências para o espaço urbano, e que soluções precisam ser construídas coletivamente, sem perder de vista a segurança viária.”
Fonte: Portal do Trânsito | Foto: andov para Depositphotos
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