Diversos estudos nacionais e internacionais apontam que a presença de radares reduz drasticamente o número e a gravidade dos sinistros de trânsito.
Eles estão nos semáforos, rodovias, lombadas e avenidas: os radares se tornaram parte do cenário urbano brasileiro. Mas mesmo com dados comprovando sua eficácia na redução de sinistros e mortes, a percepção popular ainda associa esses equipamentos à chamada “indústria da multa”. Afinal, o radar salva ou pune?
A resposta pode ser mais simples do que parece, mas continua envolta em polêmicas. Para muitos condutores, os radares representam um obstáculo, um “olho eletrônico” pronto para flagrar e punir deslizes. Para os órgãos de trânsito e especialistas em segurança viária, são ferramentas indispensáveis de prevenção. E é justamente entre esses dois pontos de vista que se constrói um dos debates mais importantes — e mal compreendidos — da atualidade no trânsito brasileiro.
Radares salvam vidas: o que dizem os dados
Diversos estudos nacionais e internacionais apontam que a presença de radares reduz drasticamente o número e a gravidade dos sinistros de trânsito. Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), o excesso de velocidade está entre os principais fatores de risco de morte no trânsito.
No Brasil, dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) indicam que, em trechos onde há fiscalização eletrônica, a média de óbitos por acidente é consideravelmente menor. Em cidades como São Paulo, onde há monitoramento por lombadas eletrônicas e radares fixos, as vias fiscalizadas apresentaram queda de até 60% nas mortes.
“O radar é um aliado da segurança. A sua presença induz o respeito à velocidade permitida, e isso salva vidas”, destaca o especialista em trânsito Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito e da Tecnodata Educacional.
Por que, então, os radares causam tanta rejeição?
A resposta está na forma como trata-se o tema desde o início. Por um lado, houve de fato casos em que municípios instalaram radares sem critérios técnicos claros, reforçando a ideia de que o objetivo era apenas arrecadar com multas. Por outro, faltou comunicação eficiente para mostrar o papel preventivo dos equipamentos.
Além disso, a percepção de “pegadinha” — quando um radar está posicionado em locais considerados inadequados ou mal sinalizados — colabora para o sentimento de injustiça.
“Muitos motoristas só enxergam o radar como punição porque se acostumaram a dirigir no limite da infração. A culpa recai sobre o equipamento, quando na verdade ele só registra o que já é proibido por lei. Ninguém é multado por respeitar as regras”, reforça Celso Mariano.
Radares na mira da política
Nos últimos anos, a questão dos radares foi usada como pauta política em diversas esferas. Em 2019, por exemplo, o governo federal suspendeu temporariamente o uso de radares móveis nas rodovias federais. A reversão da decisão ocorreu após recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU), que alertou para os riscos à segurança viária.
Em algumas cidades, há também pressão popular ou de vereadores para retirar lombadas eletrônicas e reduzir a fiscalização em avenidas movimentadas. O argumento é quase sempre o mesmo: “a cidade virou um caça-níquel”.
Mas a realidade é que a maior parte das multas aplicadas no Brasil é por excesso de velocidade, justamente porque essa infração é a mais recorrente entre os motoristas brasileiros, e não porque os radares sejam abusivos.
Educação e transparência: o caminho para virar esse jogo
Especialistas concordam que a só será possível superar a resistência ao radar com educação para o trânsito e comunicação transparente com a sociedade. Isso inclui:
- Divulgação clara dos critérios técnicos de instalação dos equipamentos;
- Explicações sobre os objetivos preventivos e os resultados obtidos com os radares;
- Campanhas educativas que demonstrem o impacto da velocidade nos acidentes;
- Incentivo ao uso de tecnologias de apoio à direção segura, como limitadores e alertas.
Além disso, é importante que os órgãos de trânsito divulguem os dados de forma acessível, mostrando, por exemplo, quantas vidas deixaram de ser perdidas após a instalação de radares em determinados trechos.
Não é sobre multa. É sobre vida.
A multa pode doer no bolso, mas um acidente grave custa muito mais: em sofrimento, em perdas humanas e também financeiramente. O radar, quando bem utilizado e corretamente sinalizado, é uma ferramenta de defesa da vida — e não um vilão.
“Enquanto mantivermos a falsa oposição entre educação e fiscalização, vamos continuar perdendo vidas. O trânsito seguro exige as duas coisas. O radar é como o cinto de segurança: funciona melhor quando você entende por que ele existe”, conclui Celso Mariano.
Fonte: Portal do Trânsito
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