Palestra do futurista abriu a edição de 2025 do SEST SENAT Summit, apontando para uma mudança profunda que exigirá novas competências e mentalidades
A IA (inteligência artificial) generativa está prestes a desencadear uma das maiores revoluções econômicas e produtivas da história (e de forma abrupta), como uma onda gigante que transforma o cenário de uma só vez. A avaliação é do futurista Jonathan Brill, presidente do Center for Radical Change e professor adjunto da Singularity University, que abriu, nesta terça-feira (12), em São Paulo (SP), o SEST SENAT Summit.
Segundo Brill, em até cinco anos, os efeitos da IA generativa serão sentidos em todos os setores da economia, exigindo que empresas e governos se preparem agora para suas implicações tecnológicas e estratégicas. Ele destaca que a combinação da IA simbólica (baseada em regras) com a IA generativa (capaz de criar conteúdos e soluções a partir de grandes volumes de dados) mudará radicalmente a forma de pensar, trabalhar e produzir riqueza.
O especialista compara o momento atual a marcos históricos, como as eras do bronze, do ferro e do silício – períodos que redefiniram a civilização. A diferença é que, hoje, 80 anos de pesquisa e desenvolvimento em IA estão sendo condensados em poucas semanas, produzindo saltos de eficiência sem precedentes. “Um funcionário com celular e acesso à IA equivale a ter um consultor sênior ajudando a tomar decisões. Essa tecnologia pode participar de todas as reuniões, entender o contexto e oferecer suporte até aos profissionais mais juniores. Isso empodera as equipes e aumenta a inteligência coletiva das organizações.”
Ele cita o exemplo do Instituto de Pesquisa da Toyota, em que engenheiros projetam carros enquanto a IA faz ajustes aerodinâmicos em tempo real. “O que levava meses agora é feito em um dia. Uma pessoa passa a fazer o trabalho que antes exigia várias”, disse.
O alcance dessa tecnologia extrapola o campo da engenharia. Brill contou que já recorreu à IA para buscar soluções contra o risco de sequestros no Brasil. Em apenas cinco minutos, a ferramenta levantou o histórico completo de medidas adotadas, propôs novas estratégias e organizou tudo em um documento estruturado.
No transporte, a mudança se espalhará por toda a cadeia, da gestão logística aos centros de distribuição, das entregas realizadas por caminhões autônomos à integração entre robôs e veículos inteligentes. “Estamos falando de serviços que custavam R$ 40 e poderão custar R$ 1 e de resultados sete vezes melhores do que há um ano, sem limite natural para essa melhoria”, destacou.
Para ele, o desafio maior não é tecnológico, mas, sim, cultural. Mudar a arquitetura de uma organização leva cerca de dois anos, e mudar a cultura leva sete. “Temos alguns anos para definirmos como vamos usar a IA, mas a transformação cultural precisa começar agora.”
Para Brill, a IA não vai extinguir empregos, e, sim, redefinir seu valor. No caso dos caminhoneiros, por exemplo, a função vai muito além de dirigir: envolve zelar pela segurança da carga. Assim, as vagas continuarão existindo, mas com novas atribuições.
Sua mensagem final foi clara: as empresas devem enxergar a inteligência artificial não como ameaça, mas, sim, como oportunidade. “Não pensem em como serão superados pelos concorrentes, mas em como podem aproveitar essa maré para prosperar. A IA não é só uma onda, é a mudança de maré.”
Eficiência e inovação com IA

A inteligência artificial pode gerar ganhos expressivos, mas também pode fracassar quando mal direcionada. Esse foi o eixo central da palestra “IA e otimização dos processos aplicados ao transporte”, ministrada pelo cientista de dados Sandor Caetano, que compartilhou aprendizados de sua trajetória no iFood, em que desenvolveu sistemas de recomendação capazes de influenciar o comportamento dos usuários.
Segundo Caetano, muitas empresas estão tão imersas nas rotinas que não percebem o potencial de tecnologias disruptivas. No iFood, o primeiro grande uso da IA foi para calcular com precisão o tempo estimado de entrega, reorganizando todo o sistema logístico em torno desse dado. O resultado: 10% mais entregas dentro do prazo e aumento significativo na satisfação dos clientes.
Nem todas as iniciativas, porém, foram bem-sucedidas. A aplicação de preços dinâmicos para entregadores, inspirada no Uber, não se ajustou ao modelo de operação da plataforma. A mesma situação ocorreu com incentivos automáticos para horários de pico, que, na prática, já eram definidos informalmente. Em contrapartida, a substituição de dados defasados do Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) por imagens de satélite e um otimizador logístico aumentou a eficiência operacional.
O ponto de virada veio com o uso de um simulador que permitia às equipes testar ideias antes de implementá-las, validando soluções rapidamente em diferentes cidades e reduzindo 20% dos custos de entrega em quatro anos. Caetano sintetizou esses aprendizados em um modelo de evolução das decisões nas empresas: da autoridade do gestor, passando pela análise baseada em dados e BI, até chegar à inteligência artificial e à automação, que integram previsão, julgamento, decisão e execução em escala.
Para ele, a IA só faz sentido quando aplicada com propósito claro, foco em resultados mensuráveis e ganhos para o desempenho das equipes, além de abrir caminho para novos produtos. Tarefas repetitivas e processos de margens apertadas são terreno fértil para essa tecnologia. O maior desafio, no entanto, não é a ferramenta, mas, sim, as pessoas. “É preciso mapear processos e dar direcionamento claro”, afirmou.
Sandor Caetano ressaltou que o uso estratégico da inteligência artificial pode gerar equipes mais enxutas, processos ágeis e uma gestão de recursos humanos focada nas competências do futuro. A tecnologia também encurta ciclos de entrega, acelera a inovação, orienta a gestão por métricas e redesenha estruturas organizacionais. Para os profissionais, isso significa novas oportunidades para quem domina a IA, exigência de aprendizado contínuo, adaptação de hábitos e fortalecimento do pensamento crítico para validar os resultados produzidos pelas máquinas.
Abertura

O SEST SENAT Summit foi aberto pelo presidente do Sistema Transporte, Vander Costa, acompanhado dos diretores do SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), da CNT (Confederação Nacional do Transporte) e do ITL (Instituto de Transporte e Logística). Vander Costa ressaltou que o evento é um momento de conexão, troca de informações e provocações com o objetivo de compartilhar experiências, fomentar a inovação e debater a digitalização, um fenômeno que, como destacou, já é parte do presente, e não apenas do futuro.
“A realidade está mudando rapidamente. Aqui, queremos refletir sobre o que acontecerá nos próximos cinco ou dez anos. Não é só uma questão econômica, mas também cultural, ligada a costumes e hábitos. Precisamos discutir o uso das tecnologias, que podem ser usadas tanto para o bem quanto para o mal. Por isso, é fundamental distinguir o que realmente contribui para o desenvolvimento social e empresarial.”
A diretora executiva nacional do SEST SENAT, Nicole Goulart, fez um breve histórico das edições anteriores do evento, destacando que a curadoria foi construída coletivamente, a partir do feedback dos participantes. “Nosso objetivo é criar uma rede de relacionamento forte, um networking de alta qualidade. Não existe empresa forte em um setor fraco. Este evento é um investimento para fortalecer e desenvolver as empresas de vocês.”
A representatividade do público e o potencial de aprendizado entre diferentes segmentos foram ressaltados pelo diretor adjunto nacional do SEST SENAT, Vinicius Ladeira. “Hoje contamos com representantes de todos os modais, o que nos permite entender as diversas formas pelas quais a transformação digital impacta o setor de transporte.”
Também subiram ao palco, durante a abertura, o diretor de Relações Institucionais da CNT, Valter Souza; a diretora executiva interina da CNT, Fernanda Rezende; o diretor executivo do ITL, João Victor Mendes; e a diretora adjunta do ITL, Eliana Costa.
O evento
O SEST SENAT Summit é um encontro anual promovido pelo Sistema Transporte, direcionado a líderes do setor. A iniciativa tem como objetivo debater o futuro do transporte no Brasil, abordando temas como inovação, transformação digital e inteligência artificial. A edição de 2025, realizada nos dias 12 e 13 de agosto, traz o tema “Inovação em Movimento: O Transporte na Era Digital”.
Fonte/Imagem: Confederação Nacional do Transporte
Deixe um comentário